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O tatu e os ratos

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O tatu e os ratos

Copa do Mundo, dinheiro e violência de Estado

Daniel Cunha

Como já mostrei em texto anterior, o episódio do tatu da Coca-Cola em Porto Alegre serviu para trazer à luz os posicionamentos autoritários do comando da segurança pública do Rio Grande do Sul, a começar pelo secretário de estado Airton Michels. Isto foi em certa medida suavizado pela declaração do governador Tarso Genro, que, ainda que de forma ridiculamente tardia e insuficiente, de certa forma desautorizou o seu secretário. No entanto, novas manifestações, desta vez do prefeito Fortunatti – aliado de Tarso, e cuja guarda municipal, conforme testemunhos, também participou da pancadaria, apesar de nos vídeos estar mais destacada a Brigada Militar – novamente acionam as sirenes do estado de sítio.

No chamado “Seminário FIFA sobre segurança”, o prefeito desqualifica os manifestantes como um grupo de “vândalos” – como se o conflito não tivesse sido iniciado pelas forças policiais, conforme mostram vários vídeos, como se eles não tivessem críticas políticas ao seu governo. Diz que o grupo “ficará isolado da população” – como se não fossem parte da população e não tivessem cidadania. E em seguida, traz à luz o motivo de seu nervosismo: novos protestos relacionados à Copa “podem afastar turistas e oportunidades de negócios de geração de emprego e renda para a cidade”. Ou seja, em nome do absolutismo do dinheiro e do trabalho alienado, Fortunatti se acha no direito, não de ter posição política contrária a certas manifestações (direito seu), mas de querer silenciá-las, impedir que elas aconteçam com uso da força policial – afinal, são apenas “vândalos”.

Por sua vez, o comandante da Brigada Militar Sérgio Abreu volta a fazer a defesa da atuação da polícia militar, qualificando-a como “correta”, e destila mentiras: “Não se tinha a dimensão de que as pessoas chegariam àquele nível de agressividade de querer depredar. Começaram a retirar os gradis e a BM não conseguiu conter. Era um grupo grande. Eles não vieram caminhando para que a polícia pudesse orientar sem repressão. Não obedeceram e arremessaram pedras, isso levou a reação da BM. Isso acabou gerando outras agressões”.

O primeiro vídeo abaixo deste texto, gravado pela própria polícia militar, mostra que, ao contrário do que diz o comandante, os manifestantes se aproximaram caminhando, e não promovem um arremesso de pedras, mas uma dança de roda. O segundo vídeo mostra de forma didática a versão policial e o que as imagens dos fatos mostram.

Não satisfeito em distorcer o ocorrido, o comandante afirma: “Quem estava ali estava sujeito”. Uma confissão descarada de que a polícia espancou pessoas indiscriminadamente. E completa: “não serão permitidas durante o mundial este tipo de reunião que pode resultar em episódios como os da última quinta-feira”. O comandante deveria saber disso, mas não custa lembrar: o direito à reunião pacífica é garantido constitucionalmente. E, novamente, a violência resultou da ação inadequada da polícia que ele comanda. Mesmo assim, Abreu não tem uma palavra sequer de condolências ou respeito às vítimas da violência da sua polícia, que derramou sangue e levou vários ao hospital. Ao contrário, assim como o secretário de segurança, que os tratou como objetos ao equipará-los ao tatu de plástico enquanto “patrimônio”, Abreu os objetifica ao dizer que “o episódio serviu de laboratório para nós”. Ou seja, reduziu os manifestante a cobaias, meros objetos de suas experiências.

Mais um vez, portanto, fica claro o posicionamento dos comandantes da segurança do Estado, e agora do prefeito, em suas próprias declarações. Não se admitirá manifestações. Opositores políticos são vândalos. E quem estiver perto, estará sujeito. Para não afastar oportunidades de negócios.

Como dizia um cartaz na manifestação de repúdio ao incidente provocado pelos policiais: “Violenta é a ditadura do mercado”. Os ratos do dinheiro querem o monopólio da cidade, com a proteção de seus cães de guarda.

Fonte das declarações:

http://sul21.com.br/jornal/2012/10/episodios-com-mascotes-dominam-pauta-em-ato-sobre-seguranca-na-copa/

Vídeos:

Written by sinaldemenos

outubro 12, 2012 às 10:06 pm

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